Como você descreveria o estado atual do mercado hoteleiro na América Latina da perspectiva da Wyndham?
As Américas são uma região muito diversa, então é difícil falar de uma única realidade. Gosto de dividi-la em duas grandes áreas: México e Caribe, cujo principal mercado emissor são os Estados Unidos. Nesses países, qualquer sinal de recessão na economia norte-americana pode impactar a ocupação hoteleira. Atualmente, continuamos a ver crescimento, embora mais lento em algumas áreas.
Em contraste, a situação é diferente no restante da América do Sul. Por exemplo, no Brasil, a principal fonte de renda são os próprios viajantes brasileiros. Isso significa que fatores externos não são tão influentes e o crescimento depende mais de fatores locais. No geral, vemos uma perspectiva positiva, mesmo em mercados que se recuperaram lentamente após a Covid, como o Peru. Além disso, não vemos sinais de desaceleração no futuro.
Quais marcas do portfólio estão apresentando melhor desempenho na região atualmente?
Das nossas 25 marcas globais, 18 estão presentes na América Latina e no Caribe. Entre elas, algumas se destacam por sua estratégia e desempenho. Estamos particularmente focados no crescimento de Wyndham, Wyndham Garden, Wyndham Grand, Ramada, TRYP e Alltra, nossa marca all-inclusive. Essas marcas estão no centro da nossa estratégia regional.
Um caso interessante é o da Dazzler, com forte presença no sul da América do Sul, cujo índice RevPAR (Receita por Quarto Disponível) superou 100% em 2024. Isso significa que ela ganhou participação de mercado em relação aos seus concorrentes diretos, demonstrando sua força.
Também é importante observar que, embora a Wyndham esteja mais associada ao segmento econômico nos Estados Unidos (Super 8, Days Inn), na América Latina e no Caribe focamos mais nos segmentos de médio e alto padrão. É aqui que se concentra a maior parte do nosso portfólio.
No competitivo segmento all-inclusive, como a Wyndham se diferencia de outras redes?
Em 2020-2021, lançamos o Wyndham Alltra, nossa marca exclusiva para o segmento all-inclusive. Embora tenhamos outras propriedades com esse formato sob marcas como Wyndham Grand — por exemplo, em Cancún e Barbados — o Alltra foi criado especificamente para esse público.
A estreia foi desafiadora, pois coincidiu com o auge da pandemia, mas foi um sucesso. A marca está posicionada entre o midscale e o upscale e tem sido muito bem recebida. À medida que crescemos, criamos uma equipe interna especializada em propriedades all-inclusive: operações, vendas e marketing, com foco exclusivo neste tipo de propriedade. Acreditamos que esse nível de especialização é fundamental porque, embora ainda seja uma indústria hoteleira, o all-inclusive tem uma dinâmica diferente da dos hotéis tradicionais de estilo europeu.
Quais são as últimas adições notáveis na região?
Recentemente, inauguramos um hotel em Antígua com a nossa marca Registry Collection, em parceria com Sam Nazarian (SBE). É uma propriedade de luxo com 79 quartos.
Também estreamos em Aruba com o TRYP e chegamos ao centro de Monterrey, no México, com um hotel icônico que costumava ser uma marca concorrente e agora opera sob a Wyndham.
Um dos marcos mais significativos foi a aliança estratégica com a Decameron, empresa-chave no segmento all-inclusive na América do Sul. Inicialmente, adicionamos nove hotéis em três países: Jamaica, Panamá e México.
Outra inauguração significativa foi o Wyndham Sam Lord's Castle, um resort de 620 quartos que passou por uma reforma de 60% e recentemente inaugurou um parque aquático. No total, inauguramos 34 hotéis nos últimos 18 meses.
Quais são os planos de expansão para os próximos anos na América Latina e no Caribe?
Atualmente, temos 268 hotéis em operação e mais 100 contratados, em vários estágios de desenvolvimento. Alguns serão inaugurados entre 2025 e 2028, dependendo do andamento da construção. Isso representa um aumento de 37% em relação ao portfólio atual, e nossa equipe de desenvolvimento continua trabalhando para expandir esse número.
Brasil, México e República Dominicana respondem por grande parte dessas futuras inaugurações. Além de serem mercados estratégicos devido ao seu tamanho, a República Dominicana vem vivenciando um boom turístico sustentado há vários anos, o que facilita o crescimento do país.
Como a Wyndham gerencia talentos e treinamento internamente, considerando seu modelo de franquia?
A Wyndham é essencialmente uma empresa de franquias. Dos nossos 270 hotéis na América Latina e no Caribe, operamos diretamente apenas 30. Mesmo assim, contribuímos significativamente para o treinamento e a cultura de serviço. Temos uma equipe de treinamento que visita os hotéis regularmente e organizamos Programas de Orientação Executiva de quatro a cinco vezes por ano, como o que realizamos recentemente em Lima.
Serão três dias intensivos de treinamento em atendimento ao cliente, ferramentas tecnológicas proprietárias, inovações e cultura de serviço. O objetivo é fornecer aos nossos franqueados ferramentas para que possam trabalhar melhor com suas equipes, em um contexto em que a retenção de talentos é cada vez mais desafiadora.
Que iniciativas você está desenvolvendo nas áreas de sustentabilidade e responsabilidade social corporativa?
Nossa estratégia está estruturada no âmbito do programa Wyndham Green, que possui cinco níveis de certificação. Mais de 90% dos nossos hotéis já alcançaram pelo menos o Nível 1. Este sistema abrange desde a gestão de resíduos e o consumo de energia até o tratamento de água e a redução de plástico. Alcançar o Nível 5 exige múltiplas práticas sustentáveis consolidadas.
Em relação à responsabilidade social, atuamos tanto no âmbito corporativo quanto junto aos hotéis em iniciativas de integração comunitária. Isso inclui a criação de oportunidades de emprego, treinamento profissional e desenvolvimento para as pessoas nas comunidades onde atuamos.
Sempre que realizamos uma reunião corporativa em um destino, incluímos uma atividade de responsabilidade social. Por exemplo, em janeiro, durante nossa inauguração anual no Panamá, passamos um dia colaborando com um orfanato. Em nossa conferência regional na República Dominicana, também realizamos atividades semelhantes com franqueados.
Como está estruturado o plano de participação em feiras e eventos para este ano?
Participamos de grandes eventos globais e regionais. Dividimos nossa participação em duas áreas principais: eventos de desenvolvimento de negócios e investimento hoteleiro; e feiras de negócios focadas em gerar vendas para nossos hotéis.
Nossa equipe global de vendas tem forte presença em feiras nos Estados Unidos, Europa e América Latina, dada a importância do mercado americano como gerador de demanda para o México e o Caribe. A crescente agenda demonstra o dinamismo do setor.
Qual o papel do programa de fidelidade Wyndham Rewards na estratégia da marca?
É um dos pilares mais importantes. O Wyndham Rewards tem mais de 115 milhões de membros em todo o mundo e foi eleito o melhor programa de fidelidade hoteleira pelos leitores do USA Today por sete anos consecutivos. Seu principal ponto forte é a simplicidade. Possui apenas três níveis de resgate: 7.500, 15.000 e 30.000 pontos.
Com uma estadia de sete noites em qualquer hotel da rede, mesmo o mais acessível, você pode ganhar uma noite grátis. Além disso, você pode combinar pontos com dinheiro, o que o torna muito acessível. É uma ferramenta fundamental tanto para atrair clientes quanto para gerar valor para nossos franqueados.
Qual é a estratégia em relação à distribuição comercial entre vendas diretas e por meio do comércio?
Nossa prioridade é impulsionar o canal direto por meio de investimentos contínuos em nosso site, tecnologia e ferramentas como o Wyndham Rewards. Isso é muito atraente para franqueados atuais e potenciais.
No entanto, também reconhecemos o valor de outros canais, como as OTAs.
As OTAs são úteis, especialmente na abertura de novos hotéis, pois permitem uma rápida exposição ao mercado. O segredo é diversificar bem: OTAs, operadoras de turismo, vendas diretas... todos desempenham um papel.
Qual a importância do segmento MICE, especialmente para destinos de baixa temporada?
Trata-se de um segmento estratégico, embora nem todos os hotéis estejam preparados para atendê-lo. Infraestrutura adequada, boa conectividade, segurança no local e serviços complementares são essenciais. Além disso, a equipe deve ser altamente treinada para lidar com grandes fluxos de pessoas simultaneamente.
No setor MICE, o segmento de incentivos é particularmente atraente: paga altas taxas e é planejado com bastante antecedência, permitindo uma melhor organização operacional.
Alguma mensagem final que você gostaria de compartilhar com os profissionais de turismo?
Gostaria apenas de agradecer pelo espaço e enfatizar que, na Wyndham, estamos comprometidos com o crescimento sustentável da região. Nossa visão é apoiar nossos franqueados, gerar um impacto positivo em nossas comunidades e permanecer uma opção atraente e confiável para hóspedes e investidores.