De 12 a 15 de maio, o Centro de Convenções Inkosi Albert Luthuli é palco da Africa’s Travel Indaba, a maior feira de turismo do continente africano. Em meio a painéis estratégicos e trocas internacionais, uma fala ecoou com força: a de Onke Dumeko, estrategista cultural, contadora de histórias patrimoniais e head de operações da National Film and Video Foundation (NFVF).
"Meu trabalho diário é financiar histórias. Histórias que vão para o cinema, para a televisão, para os festivais. Histórias que moldam como o mundo vê a África", iniciou Dumeko. Mas seu discurso não ficou apenas no universo audiovisual — foi um chamado à ação para o setor turístico africano: “Turismo é uma indústria grávida de oportunidades não exploradas, especialmente quando aliada ao poder do cinema."
Narrativas que vendem destinos
Dumeko enfatizou a necessidade de o continente africano deixar de ser espectador e passar a ser autor da própria narrativa global. “Se queremos mudar como a África é vista, precisamos criar a fundação dessa nova história. Esperar que o mundo nos interprete corretamente é ineficaz. Temos que escrever nosso próprio roteiro”, afirmou.
Ela citou a trajetória de figuras históricas como Abraham Lincoln, comparando a ousadia de criar um futuro diferente com a necessidade urgente de uma África que se posicione no palco global não apenas como destino turístico, mas como potência criativa. “O turismo precisa entender que o audiovisual é seu aliado. A maneira como o cinema americano vende os Estados Unidos é estratégica. Cada filme é um convite para viver o ‘sonho americano’. Podemos fazer o mesmo aqui", afirmou Onke Dumeko.
Inovação com identidade
Entre provocações e reflexões, Dumeko foi categórica: “A África não precisa copiar ninguém. O mundo também se inspira em nós. O que falta é vontade política e visão estratégica.” Ela destacou que a inovação no turismo africano precisa partir de elementos culturais autênticos — e que contar essas histórias através do cinema é a chave para transformar a percepção global.
Pan-africanismo e economia criativa
Como defensora do pan-africanismo e das economias criativas, Onke Dumeko deixou claro que sua proposta vai além da estética: é uma estratégia de desenvolvimento econômico sustentável e de reposicionamento de marca continental. “Não estamos vendendo apenas paisagens. Estamos vendendo quem somos. E essa identidade precisa ser clara, forte e orgulhosa.”
A fala de Dumeko na Africa’s Travel Indaba reafirma o papel vital que as narrativas culturais desempenham na construção do turismo africano do futuro — um turismo que não apenas recebe visitantes, mas convida o mundo a ver, sentir e reconhecer a África em sua potência total.
Foco, repetição e identidade
Dumeko exemplificou países que conseguiram se projetar globalmente com base em um símbolo, uma cultura ou um traço identitário forte. “Esses países repetem suas mensagens até que o mundo inteiro passe a reconhecê-los por aquilo. Nós ainda estamos ensaiando. É hora de decidir o que queremos que o mundo veja — e repetir isso com consistência.”
O turismo como criador de futuro
A executiva encerrou seu discurso reforçando a importância de pensar o turismo como ferramenta de criação cultural, econômica e simbólica. “O turismo não pode apenas refletir o que já existe. Ele deve projetar o que ainda não nasceu. A África tem todos os recursos para isso — só falta decidir, de forma estratégica, como contar essa história.”
Reportagem: Mary de Aquino.