A Africa’s Travel Indaba: debate o fortalecimento da economia do turismo na África

Lideranças do continente debatem estratégias para integração regional, valorização cultural e uso inteligente da tecnologia durante a Africa’s Travel Indaba, na África do Sul

(Source: Mary de Aquino.)

De 12 a 15 de maio, o Centro de Convenções Inkosi Albert Luthuli, em Durban, recebe a Africa’s Travel Indaba, maior feira de turismo do continente africano. O evento reúne expositores de 27 países, compradores internacionais e representantes da imprensa em torno de uma missão comum: impulsionar o turismo africano como motor de desenvolvimento sustentável e econômico.

Durante um dos principais painéis, moderado por Lynette Ntuli, três líderes setoriais trouxeram visões complementares sobre como a África pode reposicionar seu turismo a partir da cooperação, da inovação e do resgate de sua autenticidade.

Sehloho: “Queremos que quem está em Gana veja um cartaz dizendo: próximo destino, África do Sul”

Para Thembisile Sehloho, diretora de marketing da South African Tourism, o futuro do turismo africano depende da colaboração entre países. Segundo ela, transformar o continente em um ecossistema complementar — e não competitivo — é essencial. “O crescimento de um país precisa fortalecer os demais”, disse Sehloho.

A executiva apresentou a nova estratégia de marketing sul-africana, que aposta na curadoria de experiências baseadas em cultura, gastronomia, música e estilo de vida. A ideia é prolongar a permanência dos visitantes além do tradicional safári. “Chegue para negócios, fique para o prazer”, resume.

Sehloho defendeu também o fortalecimento do turismo cultural e rural como vetor de impacto econômico direto nas comunidades. E criticou a exploração de locações sul-africanas por produções estrangeiras que não retornam valor turístico ao país. “Temos que contar nossa própria história”, pontuou.

Outro destaque foi o programa Basic Quality Verification, que certifica pequenos empreendimentos em áreas periféricas para inserção na cadeia turística formal. Para ela, “os sul-africanos que viajam internamente são os verdadeiros embaixadores do turismo nacional”.

Ramothea: “Temos o que o mundo chama de tendência há gerações — só precisamos assumir”

A CEO da African Travel and Tourism Association, Kgomotso Ramothea, fez um chamado enfático à valorização de práticas culturais já consolidadas no continente — mas que só ganham destaque quando rotuladas como tendências globais. “O slow travel? Sempre tivemos. Safáris a pé? Isso é bem-estar. Uso de plantas medicinais em spas? Está no nosso DNA”, disse Ramothea.

Ela defendeu que essas práticas sejam tratadas como propostas únicas de valor africano e integradas ao marketing turístico com orgulho. “Não basta ter — é preciso comunicar como diferencial competitivo.”

Ramothea destacou ainda como a inteligência artificial (IA) está democratizando a criação de conteúdo e o marketing para pequenos negócios do setor. “Quando não se tem verba para vídeos de alto orçamento, a IA é a ponte”, afirmou. Segundo ela, a personalização possibilitada pela tecnologia permite atingir públicos específicos com ofertas certeiras. Entre os nichos promissores, citou: o dark sky tourism e o safáris exclusivos para mulheres.

Bukula: “A IA escreve melhor do que eu — e olha que fui acadêmico”

Com humor, Septi Bukula lembrou que deixou recentemente a presidência do Comitê de Crescimento e Transformação do Turismo, mas segue ativo no Conselho de Turismo e Negócios da África do Sul. À frente da Rendzo Network, ele comanda uma rede colaborativa de empresas que organiza eventos de negócios com base no princípio: “Se uma PME pode fazer, deve fazer”.

Bukula vê na colaboração um diferencial competitivo africano. “Muitos players internacionais querem trabalhar com pequenas empresas, mas não sabem como. Nós resolvemos isso.” A rede, em parceria com órgãos como o South African National Convention Bureau, já concorre a eventos com até 5 mil participantes.

Sua fala ganhou destaque ao relatar como a IA revolucionou o trabalho com propostas e programação de eventos. “Antes, eu gastava dias para escrever propostas. Hoje, entrego os parâmetros e em segundos tenho algo melhor do que faria sozinho”, afirmou.

Entre os usos mais relevantes da IA em sua operação, ele apontou a redação de propostas para eventos internacionais, a pesquisa de oportunidades de licitação e a criação de programas de conferência com base em temas de interesse. Para Bukula, adotar a IA deixou de ser opcional. “É um caminho sem volta — e nosso time já está todo a bordo. Já sou praticamente da família da IA em Arkansas”, brincou.

Reportagem e foto: Mary de Aquino.


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