Do anonimato à liderança na Embratur: Tania Neres dá voz ao turismo de pertencimento na WTM Latin America

Referência nacional em afroturismo, Tania Neres participou da WTM com discursos contundentes sobre identidade racial, protagonismo negro e os novos rumos do turismo brasileiro com foco na inclusão

(Source: Mary de Aquino.)

A WTM Latin America 2025 não foi apenas sobre negócios e tendências. Foi sobre visibilidade, escuta e identidade. E poucas vozes ecoaram tão forte no Expo Center Norte quanto a de Tania Neres, coordenadora de Diversidade, Afroturismo e Povos Indígenas da Embratur.

“Sou filha de baianos e me tornei mulher preta em Salvador”, contou Tania, revelando um processo de autoafirmação que redefiniu sua carreira no turismo. Antes disso, teve uma longa trajetória em cargos operacionais, sempre questionando a ausência de pessoas negras em posições de destaque: “Os cargos passavam por mim e eu não era promovida. Percebi que não era incompetência. Era racismo.”

Foi durante a pandemia que decidiu transformar a dor em movimento. “Foquei que o turismo tinha que ser com pertencimento. Descobri o Black Travel Movement e entendi que não estávamos sozinhos”, disse.

Hoje, à frente de uma coordenação inédita criada por solicitação do governo federal, Tania Neres atua como ponte entre comunidades negras e indígenas e o mercado turístico. Em dois anos, conquistou prêmios, alianças e ampliou o alcance de um discurso que há muito era ignorado.

“O Brasil inteiro tem afroturismo. Da Amazônia ao Rio Grande do Sul. Onde tem uma pessoa negra viajando, tem afroturismo. Mas ainda precisamos mostrar o verso do cartão-postal”, afirma, ao citar a ausência histórica de representatividade negra nos roteiros tradicionais.

Ela destaca o Memorial Quilombo dos Palmares como epicentro dessa transformação: “A meca do afroturismo está em Alagoas. Já recebeu milhares de turistas pretos estrangeiros nos anos 80 e 90. Precisamos desenvolver esse lugar com orgulho e investimento.”

Neres vê no afroturismo não só um movimento social, mas também uma estratégia econômica. “Assim como o turismo italiano vende o vinho e a massa, o afroturismo vende o tambor, o dendê, a história de resistência. É uma indústria da memória viva”, reforça.

A WTM Latin America marcou um novo capítulo em sua jornada: “Estamos recontando a história do Brasil a partir das comunidades. O que era invisível agora é potência turística”, finalizou com firmeza e emoção.

Reportagem e foto: Mary de Aquino.


 


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