Thomas Dubaere, CEO da Accor Américas - Divisão PM&E, trouxe um alerta sobre o impacto do overtourism, citando o exemplo de Machu Picchu, no Peru, que já limita o número de visitantes. Para ele, é essencial criar novos destinos turísticos e diversificar as atrações. "Há muito mais para ver no Peru além de Machu Picchu, e os governos precisam investir em infraestrutura para novos pontos turísticos", afirmou. No Brasil, Dubaere destacou a necessidade de mais investimentos em regiões como Pantanal e Bonito, que possuem grande potencial, mas ainda carecem de infraestrutura hoteleira robusta.
Ele também apontou a mistura entre turismo de lazer e negócios como uma tendência crescente. "O viajante de hoje combina diferentes motivos para viajar, o que impacta a forma como os hotéis devem se posicionar no mercado", explicou.
A força do turismo na América Latina e a mudança no perfil do viajante
Gustavo Viescas, presidente da LATAMC, Wyndham Hotels & Resorts, destacou que a América Latina tem vantagens estratégicas em relação a outras regiões. "Enquanto os mercados dos Estados Unidos e Europa enfrentam desafios, a América Latina se mantém resiliente, com grande parte da demanda sendo impulsionada pelo turismo regional", comentou.
Viescas também enfatizou que a nova geração de viajantes valoriza experiências acima de bens materiais, uma mudança significativa no comportamento de consumo. "Millennials e Gen Z querem vivências autênticas, algo que impacta diretamente a maneira como projetamos nossos hotéis e serviços", disse.
Sustentabilidade e a relação com os investidores
Andrés Fajardo, CEO da GHL Hotéis, trouxe um ponto fundamental: a dificuldade de convencer investidores a apostarem em sustentabilidade. "Todos falam sobre sustentabilidade, mas na prática, quais são os incentivos para os donos de hotéis investirem nisso?", questionou.
Ele ressaltou que 85% dos novos projetos são franquias, o que torna a implementação de práticas sustentáveis mais complexa. "Precisamos trabalhar juntos – operadores, marcas e investidores – para garantir que sustentabilidade não seja apenas um conceito, mas algo que gere retorno real", afirmou.
Tendências e novos nichos de mercado
Ron Pohl, presidente da WorldHotels e Operações Internacionais da BWH Hotels, apontou três segmentos que devem impulsionar a demanda hoteleira nos próximos anos:
Crescimento da classe média global, especialmente em mercados emergentes.
Envelhecimento da população, com turistas mais velhos e ativos querendo viajar mais.
Jovens viajantes, que priorizam experiências únicas e personalizadas.
Ele destacou que a hotelaria deve se adaptar a esses perfis. "Os investidores precisam entender essas mudanças para garantir que seus hotéis atendam às novas expectativas dos clientes", afirmou.
Novos destinos e o impacto da variação cambial
Bojan Kumer, vice-presidente regional de desenvolvimento hoteleiro da Marriott International, observou que a alta do dólar tem impulsionado viagens internacionais. "Vemos cada vez mais americanos viajando para o Caribe e a América Latina, pois conseguem mais pelo seu dinheiro", explicou.
Ao mesmo tempo, em países como o Brasil, a demanda interna tem crescido, com viajantes explorando mais o próprio país. "O turismo doméstico segue forte, e precisamos oferecer experiências diferenciadas para esse público", destacou Kumer.
O futuro da hotelaria na América Latina
Os debates no Fórum SAHIC 2024 evidenciaram que o setor hoteleiro está em constante transformação, impulsionado por mudanças no comportamento dos viajantes e novas demandas do mercado. A criação de novos destinos, a sustentabilidade e a adaptação às tendências demográficas são fatores essenciais para garantir um crescimento sustentável.
Com moderador do painel, Peter Greenberg, editor de viagens da CBS News, destacou que o grande desafio do setor é equilibrar inovação, experiência e rentabilidade. "O futuro da hotelaria não será decidido apenas pelos investidores, mas pelo que os hóspedes desejam e esperam encontrar", concluiu.
Reportagem e foto: Mary de Aquino.