Magda Nassar, presidente da ABAV Nacional e da Expo ABAV, aposta na internacionalização e na força do agenciamento

Nassar defende a valorização do agente de viagens e a internacionalização, não classifica pessoas por gênero, mas por desempenho, mas observa um crescimento feminino em cargos de chefia no setor turístico, mesmo que lentamente. Defensora do trabalho, da união e transparência, ela vem lutando para conquistas positivas na reforma tributária, novas leis para o setor ou até mesmo judicialização e crê na disruptividade para um desenvolvimento na indústria do turismo.

Leia a entrevista completa abaixo:

Travel2Latam: Quando fui te entrevistar na ABAV Expo nos últimos minutos da feira, sua fisionomia expressava felicidade, realização e dever cumprido. Foi um árduo caminho e de trabalho pesado para chegar a tamanha conquista? A maior Abav Expo de todos os tempos!

Magda Nassar: Sim, a ABAV Expo do Rio de Janeiro foi uma grande realização minha e da minha equipe, mas o caminho sempre foi árduo desde o meu primeiro mandato, já que passamos por muitos desafios, como a pandemia, sempre tendo como objetivo o fomento do Turismo, principalmente com foco no agenciamento. 

Nós trouxemos o primeiro evento, o grande evento virtual, que foi interessantíssimo para o Brasil. Também fizemos um evento presencial teste em 2021, e no ano seguinte realizamos um evento de retomada, alegre e profissional em Pernambuco. E por fim, o evento do Rio fecha um ciclo para que outro comece.

Acho que a gente vai ter no ano que vem em Brasília, um evento bastante disruptivo. Toda a minha realização, toda a minha alegria parte de ver essa entrega que a ABAV Nacional fez durante esses quatro anos e meio. A ABAV vem com uma marca fortalecida, com respeito e credibilidade no mercado. E não posso deixar de mencionar a importante valorização dos agentes de viagens.

Travel2Latam: Como foi lidar com a disputa das cidades e estados desejando a ABAV Expo em vossos destinos? 

Magda Nassar: É sempre uma alegria ver que destinos e cidades têm esse desejo de levar a ABAV Expo, que entendem a importância do maior evento de turismo do Brasil, das Américas, o evento B2B, que atrai o mundo inteiro para o Brasil. 

No ano que vem, Brasília estará nos hospedando, e a gente está muito feliz com o evento que vai ser inusitado, no mínimo. 

Muitas vezes a ABAV Nacional tem que lidar com uma dificuldade para encontrar espaços com os metros quadrados necessários para receber nossa feira itinerante. A gente quer muito que o Brasil se prepare para isso, para que os grandes eventos, que hoje já batem a marca de mais de 40 mil visitantes, possam ser realizados. 

Travel2Latam: Como é a Magda Nassar sendo diplomática numa indústria ainda dominada por homens?

Magda Nassar: Eu não sou diplomática. Eu acho que a luta é um objetivo. Eu sou quem eu sou dentro do meu escritório, dentro da minha sala, dentro da minha casa e dentro do meu setor, onde eu escolhi trabalhar há muitos anos atrás. Eu acho que é necessário que a gente tenha a nossa postura muito bem definida, de quem nós somos e o que nós queremos fazer. 

Nosso turismo é feito basicamente por mulheres, no entanto, nossas lideranças ainda não, mas isso tem crescido. E eu como enxergo pessoas, e não gêneros, não sinto nenhum tipo de diferença, e isso faz com que as pessoas talvez me tratem bem, porque eu não aceito ser tratada de outra forma.

Travel2Latam: São muitos anos no turismo, você viu um avanço feminino em oportunidades? 

Magda Nassar: Eu acho que sim, eu acho que avanços femininos acontecem em todos os setores, mas ainda de forma lenta. A gente observa isso, principalmente em política. Qualquer tipo de política associativa, pública, privada, caminham de forma bastante lenta, mas acho que a gente tem sim novas oportunidades.

Quando a gente pensa que a começamos sem poder ir para a escola, porque éramos mulheres, e compararmos com os dias de hoje onde temos grandes lideranças femininas pelo mundo. É um orgulho, mas é um orgulho ainda atrasado. Mas eu acho que vejo hoje muitas parceiras do meu lado, muitos homens e mulheres que são parceiros, muitos homens que entendem o que é a força de uma mulher, e isso é o que me deixa bastante feliz, rumo a essa caminhada da igualdade dos gêneros.

Travel2Latam: Quais serão as campanhas de investimento e projetos da ABAV Nacional em 2024?

Magda Nassar: Bom, a ABAV em 2024 segue nesse bom caminho que ela tem vindo nesses últimos anos. A nossa internacionalização é bastante importante para nós, e temos investido nisso. Em 2024, a gente tem um evento desafiador, maravilhoso, novo, inovador. E a palavra do momento, disruptivo, que a gente já mencionou aqui. 

Nós vamos mostrar a força do agenciamento, não só dentro desse evento, mas principalmente em todas as ações que a gente tem desenvolvido. 

Estamos lutando no momento pela reforma tributária, temos a lei geral do turismo, temos pleitos específicos a desenvolver para mudança de leis, e talvez de judicializações que são bastante injustas no país. 

Então, estamos trabalhando muito, os nossos projetos sempre são desenhados muitos anos antes, porque mudar uma lei é muito difícil, mas a gente vai trabalhar fortemente e a gente tem certeza de que, como nos anos anteriores, a gente vai ter bastante sucesso.

Travel2Latam: Na sua visão o Brasil já se recuperou totalmente da pandemia? 

E agora com guerras grandes como as da Ucrânia X Rússia e da Palestina X Israel, você acha que isso pode impactar no turismo brasileiro e de que modo?

Magda Nassar: Acho que sim, acho que o Brasil já se recuperou da pandemia, a gente vê os números já chegamos aos números de 2019, ainda não terminamos esse ano, e já chegamos aos números pré-pandemia. Acho que mudamos algumas visões de antes e depois da pandemia, e eu espero que a pandemia fique bem longe da gente, que a gente consiga voltar à nossa normalidade, principalmente a colocar mais produtos na prateleira do agente de viagem, porque ele se encarrega de vender.

Com relação aos recentes conflitos, precisamos olhar o que está acontecendo de uma forma técnica, e os agentes estão preparados para fazer isso. Não é possível prever um conflito, e eles obviamente impactam o turismo, não apenas no país onde acontece, mas em toda a sua região. Temos prejuízos monetários, mas principalmente prejuízos humanos, vidas que foram perdidas para sempre, infelizmente. Para mitigar os prejuízos monetários, o agenciamento é capaz de realizar as mudanças necessárias.

Travel2Latam: Falando em tendências de mercado, na sua opinião o que será tendência em 2024 no turismo? O que o turista espera dos agentes de viagens?

Magda Nassar: As tendências para 2024 é que o consumidor fique cada vez mais exigente em relação aos agentes de viagens. O consumidor quer atendimento, quer respostas rápidas e deseja saber as opções que ele tem para aquilo que ele pode pagar. O agente tem que se tornar mais técnico e específico, nunca parando de estudar.

Por fim, precisamos falar que existe a questão do turista brasileiro que ficou com a demanda reprimida por conta de visto, por conta de uma série de questões que aconteceram nos últimos dois anos, e que agora efetivamente vai começar a replanejar essas viagens, e fazer a viagem acontecer. Então acredito que haja aumento grande no internacional em comparação ao doméstico, acredito que o internacional vai crescer mais do que o doméstico, não obviamente em números, mas sim em percentuais.

Travel2Latam: Qual legado você espera deixar na ABAV Nacional?

Magda Nassar: Acho que o legado que eu deixo na ABAV Nacional é um legado de união. É o mais importante legado que eu reconheço hoje. 

Nós temos uma união do setor do agenciamento, nós temos uma união dos nossos presidentes. E nós temos uma união profunda do mercado, que aprendeu a dividir suas dores com a sua entidade mãe, porque a ABAV é uma grande entidade mãe das agências de viagens. 

Acho que essa transparência que a gente empregou durante esses últimos anos foi muito compensadora. Tenho muito prazer e orgulho desse trabalho que foi feito na ABAV Nacional, e tenho principalmente muita certeza que a gente vai caminhando rumo a um futuro melhor, melhor até do que a gente esperava nos últimos anos, nos últimos difíceis anos.

Entrevista e foto: Mary de Aquino.