Existe um investimento em feiras nacionais para transformá-las em internacionais, ao mesmo tempo que o estado mais rico do Brasil está presente em feiras de negócios de turismo no exterior.
Nesta entrevista Lucena cita a diversidade cultural da capital de São Paulo, o turismo religioso do halal – islâmico, judaico, católico, evangélico, entre outros. Fala das ações de acolhimento e promoção do turismo LGBTQIAPN+, das boas práticas de acessibilidade e sustentabilidade.
Roberto de Lucena ainda fala sobre a força-tarefa multidisciplinar para recuperar o centro de São Paulo, a maior cidade da América Latina, dos projetos de uma gestão anterior: Municípios de Interesses Turísticos e Sabor de SP, e de outros que estão prestes a serem lançados como: Distritos Turísticos Portal da Mata Atlântica, Turismo Náutico e o Programa Estadual de Turismo Rural.
Confira a entrevista exclusiva para Travel2Latam, abaixo:
-Quais as campanhas da Secretaria de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo tem feito para divulgar SP no exterior?
Com uma expectativa de receber 2,3 milhões de turistas estrangeiros em 2023, o Estado de São Paulo vai ampliar a divulgação dos seus destinos turísticos no exterior. O objetivo é aumentar a presença de viajantes internacionais no Estado para participar de feiras, congressos e para o lazer. Estamos sempre presentes nos maiores eventos do turismo no mundo, para divulgar São Paulo como um destino com ambiente favorável a negócios e oportunidades, incluindo feiras internacionais e eventos de grande relevância para o setor de turismo. No total, são 37 eventos, sendo 28 nacionais e nove internacionais.
Em 2023, a Setur-SP já participou de seis feiras e eventos no mercado internacional: Fitur Madrid e Madrid Fusión (Espanha); Anato Vitrine Turística (Colômbia); BTL Lisboa (Portugal); ITB Berlin (Alemanha); e Roadshow Gol te lleva a Brasil (Uruguai e Argentina). Ainda para este ano, estão programados mais três: Fit América Latina (Argentina); WTM London (Inglaterra); e Conferência Anual da Ustoa (Estados Unidos), além de roadshows na Inglaterra, Espanha, Portugal e Chile em parceria com o SPCVB.
Já no mercado nacional, a Setur-SP participou de 19 eventos, e ainda está na programação a participação em mais 14 feiras e eventos que vão de agosto a novembro. Temos também 10 roadshows em conjunto com o SPCVB e a Prefeitura Municipal de São Paulo em Brasília, Goiânia, Belo Horizonte, Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Porto Alegre, Curitiba e Rio de Janeiro.
Temos participado dos maiores eventos com visitantes e expositores de todo mundo, profissionais da área de turismo, hotelaria, transportes, entretenimento e imprensa especializada interessados em destinos, hotéis, operadoras, companhias aéreas, prestadores de serviços para eventos, fornecedores de tecnologia e empresas de gestão de destinos e viagens.
Estamos participando de feiras multiprodutos, voltadas aos mais diversos segmentos, especialmente o lazer, assim como as feiras MICE, de turismo de negócios, voltadas à captação de eventos e atração de investimentos. São Paulo tem grandes vantagens competitiva por ser o hub aéreo da América Latina, conectando-nos com todo o mundo, assim como boas rodovias para ir para interior e litoral, temos grande diversidade de oferta turística como colocado no segmento rural, religioso, de natureza, aventura, cultura, parques temáticos, bem-estar, que tem grande potencial de atrair maior demanda turística. Escolhemos os mercados que têm mais aderência com os produtos de São Paulo e emitem volume considerável de turistas para cá, como Espanha, Portugal, Alemanha, Inglaterra, Itália, Argentina, Colômbia e Estados Unidos. Somos a porta de entrada de turistas internacionais para o Brasil, com cerca de 2.3 milhões de estrangeiros que chegam ao Brasil pelo estado de São Paulo.
A questão do marketing no turismo é uma atividade fundamental - e cada vez mais no setor de turismo. Os turistas estão se tornando mais exigentes e a competição por eles é mais acirrada. O Estado de São Paulo já lançou uma marca e fez uma grande campanha. Agora é necessária uma estratégia de manutenção e desenvolvimento da imagem e de conhecimento dos atrativos do estado.
Estamos com uma campanha digital e bem direcionada em veiculação, levando mais conhecimento para potenciais turistas e incentivando também o turismo interno. Além disso, publicamos um edital de chamamento para incentivar que entidades que queiram divulgar os atrativos do estado possam usar a mesma campanha, potencializando a mensagem.
-Desde os primórdios da história, São Paulo sempre teve muita presença estrangeira, durante as duas grandes guerras, imigrantes do mundo todo vieram a capital e outras cidades do interior. Nos últimos anos muitos refugiados, africanos, venezuelanos, sírios, afegãos e muitos outros. Como o senhor desenharia a perspectiva do turismo dentro da capital que tem tantas influências?
A capital paulista, com seus 11,4 milhões de habitantes, é um retrato do mundo. Hoje, estima-se que São Paulo seja a terceira maior cidade italiana fora da Itália do mundo, a maior cidade japonesa fora do Japão, a terceira maior cidade libanesa fora do Líbano, a maior cidade portuguesa fora de Portugal e a maior cidade espanhola fora da Espanha. Há, ainda, os migrantes, que vieram de diversas regiões do Brasil para viver por aqui. Tudo isso permitiu a evolução de uma sociedade mesclada e diferenciada que enriqueceu este importante município, seja na arquitetura, na gastronomia, nas artes em geral, com usos e costumes de famílias de tantos outros lugares da terra.
Sendo assim, passear por São Paulo é sempre uma atividade prazerosa com atrações extremamente diversificadas e a gastronomia, por exemplo, é uma das nossas grandes estrelas, pois é possível encontrar exemplares da culinária de vários cantos do mundo. O cuscuz dos nordestinos, as esfihas dos árabes, o polpetone dos italianos, o pastel de Belém dos portugueses e o cupim na telha dos bandeirantes são apenas alguns exemplos que mostram como a culinária paulistana é vitoriosa.
A SETUR promove políticas de inclusão voltadas a valorização e sensibilização para temas como turismo religioso, com capacitações e materiais promocionais ligados ao turismo halal – islâmico, ao turismo judaico, católico, evangélico, entre outros. Atua também com ações de turismo lgbt, turismo acessível e sustentabilidade.
-A capital paulistana como qualquer metrópole bem desenvolvida, tem na cultura, gastronomia, shows e festivais pontos fortes. Como tem sido administrar a Cracolândia nos principais pontos turísticos do centro de São Paulo? Tem uma mini Cracolândia na porta do marco zero da cidade que é o Pátio do Colégio.
O Governo de SP está em uma força-tarefa multidisciplinar, estratégica e inter secretarial pela recuperação do Centro de SP. Já demos passos importantes, aumentando o efetivo da Polícia Militar e temos o plano de criar o primeiro distrito turístico urbano do Estado na região mais pulsante de SP: o centro histórico. O Anhangabaú já oferece inúmeras atividades à população e vemos um crescente de empreendimentos imobiliários e novos serviços na região. O Centro de São Paulo, sem dúvidas, é um grande patrimônio do turismo de São Paulo e tem muito a oferecer aos turistas.
-O senhor se define como escritor e pastor, é deputado federal, mas foi secretário de turismo do estado em 2015 e 2016 e retornou agora nessa nova gestão? Quais os projetos o senhor tem tido a oportunidade de dar continuidade?
Na primeira passagem pela Setur (Secretaria de Turismo) estive como Secretário de Turismo entre 2015 e 2016. Naquele momento, começamos o movimento por todo o estado de São Paulo para implantar a lei e criar os Municípios de Interesses Turísticos. Com o apoio dos deputados da Alesp, conseguimos votar na Lei complementar 1261/2015, em que define os requisitos básicos para uma cidade se tornar MIT e acessar os recursos do Estado para investir no desenvolvimento do turismo. Hoje temos 140 cidades consideradas MITs.
Nessa nova gestão, resgatamos o Sabor de SP, o maior programa de Valorização da Gastronomia Paulista, e ampliamos de 7 para 10 o número de rotas gastronômicas para estimular o setor. Serão 10 festivais tendo a culinária regional como foco, com 300 cidades envolvidas. Outra ação que demos continuidade é o Gabinete Itinerante que tem como objetivo apresentar os programas e ações da Setur-SP e atender pleitos dos municípios paulistas. Ainda neste ano, estamos com outros programas a serem lançados, como Turismo Náutico.
Temos outros programas que estão prestes a serem lançados neste semestre, como: a criação dos distritos turísticos Portal da Mata Atlântica, em parceria com a Votorantim. Será o quinto distrito turístico lançado pela secretaria; e o distrito turístico do Centro de São Paulo, primeiro distrito turístico urbano do estado.
Além disso, um programa de Turismo Náutico com a inauguração de estruturas náuticas em 13 municípios turísticos do estado; lançamento do Programa Estadual de Turismo Rural, previsto para outubro, o que inclui ações de fomento com parcerias com Senar/Faesp/Sebrae, entre outros.
Estamos também atuando com o Turismo Ferroviário, que trará ao Turismo do Estado de São Paulo um importante componente para seu desenvolvimento em conjunto com os atrativos locais e regionais dos Municípios e adjacentes, impactando diretamente no segmento como indutor de investimentos e estruturação, fomentando através destes, a promoção, aumento de fluxo turístico, receitas e empregos.
-Na rota gastronômica o senhor está bem próximo dos produtores, tem desenvolvido o turismo rural, a gastronomia, o enoturismo e promovido a cachaça paulistana. Isso tem feito as pessoas viajarem mais dentro do Estado, tem gerado economia para o interior? Como tem sido essa campanha das rotas gastronômicas do Sabor de SP?
O turismo rural é um exemplo de como a atividade pode gerar emprego e renda em todo estado, respeitando a variedade de destinos e as diversidades culturais e valorizando a produção local, incentivando maior consumo de produtos produzidos na região. É um segmento que tem crescido depois da pandemia, quando a saúde mental e bem-estar passaram a ser mais valorizados. São cidades e propriedades que têm produção de vinhos, queijos, cafés, cachaça, ou de comida típica que tornam esta experiência especial. Somada à gastronomia, o turismo rural proporciona contato com a natureza.
Seguindo este raciocínio, estamos realizando, até março de 2024, o maior programa de gastronomia do estado, o Sabor de São Paulo. Já foram realizadas duas etapas: em Campinas e Ribeirão Preto; outras oito regiões também vão ser contempladas. O Sabor de SP tem o objetivo de valorizar a gastronomia regional, promovendo os produtores e mapeando Rotas Turísticas, fomentando negócios e viabilizando encontros diretos entre fornecedores e consumidores.
O programa tem contribuído com o incentivo à visitação de propriedades rurais, fazendas, restaurantes e estabelecimentos de alimentação que antes tinham pouca visibilidade. Quando esses produtores participam de festivais, eventos e ações a intenção é incentivar o visitante a conhecer o produto e depois visitar esses destinos, assim ele visita os atrativos da rota gastronômica, ele se hospeda na cidade e tem possibilidade de conhecer o que a região tem a oferecer, somado a sua oferta cultural, ambiental e monumental.
A iniciativa estimula também desde grandes chefs e redes restaurantes e de hotéis a adquirir os produtos locais desses produtores, passar a valorizar o que tem no estado, e isso gira a economia e melhora a renda dessas pessoas, cria empregos e eleva a autoestima daqueles que trabalham no campo e que atuam no setor de alimentação. A intenção é transformar a cultura alimentar, incentivar o consumo de produtores locais e de uma alimentação sustentável e saudável. Tudo por meio do turismo gastronômico que cada vez mais busca experiências autênticas.
-O senhor é de Santa Isabel, uma cidade com 211 anos, o que foi feito para desenvolver o turismo local?
Tenho um imenso prazer de fazer parte da história do Município de Interesse Turístico de Santa Isabel, inclusive estive lá recentemente comemorando o aniversário da cidade com uma programação que trouxe o resgate da cultura local, com fomento de esportes e grandes shows. Santa Isabel, que faz parte da Região Turística Nascentes do Tietê, tem uma natureza exuberante com uma vocação para vários segmentos do Turismo.
Santa Isabel está localizada na região metropolitana do Estado entre o Alto Tietê e o Vale do Paraíba. Seus visitantes são atraídos pelo Turismo Rural, Gastronômico, Aventura e o Ecoturismo. Além disso, integra a região turística Nascentes do Tietê, com uma beleza natural de tirar o fôlego e é a Capital Nacional das Histórias em Quadrinhos, homenageando nosso querido Mauricio de Sousa, criador da Turma da Mônica e nascido na cidade.
A região contempla também as Nascentes do Tietê em Salesópolis e seus restaurantes rurais e fazendas de produção de mel e outros produtos. Junto com Guararema, Biritiba Mirim, Arujá e outras com grande potencial turístico.
-Quais os destinos que o senhor gosta de visitar no estado de São Paulo, nos seus momentos de lazer?
Como secretário, viajo por todo estado e garanto que são inúmeras as opções de destinos a serem descobertos por nossos visitantes. Tudo vai depender do tipo de experiência que o turista quer ter. Temos municípios com turismo de natureza, como o Vale do Ribeira com mais de 350 cavernas, além de trilhas e cachoeiras, outros para a prática de esportes como rafting, canoagem ou um passeio de balão em locais como Brotas, Socorro e o próprio Polo de Ecoturismo da capital paulista. Os mais de 600 km de praia, das mais urbanizadas as mais tranquilas, as nossas fazendas de café, de chá, de frutas, de cana de açúcar, das vinícolas. Assim como a riqueza histórica e cultural resultado dessa integração dos imigrantes, migrantes e paulistas que formam tradições diversas. Toda essa diversidade que São Paulo oferece o turista pode conferir no hub de informações da Setur. www.turismo.sp.gov.br
Entrevista: Mary de Aquino
Foto: Alan Morici