O negócio que nasce da terra, no distrito de Chinchero, a 3.754 metros de altitude, as montanhas dos Andes guardam uma das experiências mais notáveis de turismo comunitário do Vale Sagrado do Peru. O Centro Cultural Parwa, liderado por Estela Uscapi, reúne 35 famílias que encontraram no artesanato têxtil uma forma de geração de renda e preservação cultural.
O trabalho é coletivo: as mulheres fiam, tecem e tingem; os homens ajudam na poda das alpacas, no cozimento das lãs e na manutenção do espaço. A loja anexa ao centro exibe peças que variam entre 5 e 3 mil soles, incluindo vestuário, enxovais, decoração e brinquedos. Cada criação carrega o valor da tradição e o peso simbólico de séculos de ofício.
Tingimento natural e práticas botânicas
Todo o processo é manual e natural. As alpacas são criadas nas encostas frias e alimentadas com pastos locais. Após a tosa, a lã é lavada com o “sachta”, raiz nativa que substitui o sabão industrial e também serve como xampu natural — “melhor que qualquer detergente moderno”, como diz Estela Uscapi.
Os pigmentos vêm de plantas, flores, cascas e insetos coletados na região — entre eles mencionam-se espécies e elementos locais usados para obter verde, azul, amarelo, roxo e vermelhos (nusque, quinsacucho, carqueja, flor de conge, maíz morado, polvo da cochonilha). O processo de tintura exige hervidos longos (até uma ou duas horas) e combinações com limão, pedra-lumbre e pedra vulcânica (colpa), garantindo cores que, segundo Estela Uscapi permanecem estáveis após muitas lavagens.
Comercialização e dimensões econômicas
As peças produzidas são vendidas na loja do próprio centro e distribuídas por cidades do país. A faixa de preço informada vai de 5 a 3.000 soles, sendo vestuários, enxovais domésticos, objetos de decoração, brinquedos e utensílios. O arranjo comercial alterna semanas de trabalho entre famílias: numa semana algumas famílias atendem turistas, noutra semana outras assumem o turno — um sistema de rodízio que sustenta a produção contínua.
Turismo comunitário e oferta ao visitante
As visitas permitem que o turista acompanhe várias etapas do ofício: a alimentação e poda das alpacas, a limpeza da lã, o fiar, o tingimento natural e a tecelagem em si. Além das oficinas e da loja, a comunidade oferece almoços com pratos típicos — Estela Uscapi cita pachamanca e outros pratos tradicionais preparados e servidos para os visitantes. Esse conjunto de serviços integra a atividade cultural e a geração de renda local.
Geografia e patrimônio
Chinchero, conhecida como a “Terra do Arco-Íris”, está a apenas 28 km de Cusco, no coração do Vale Sagrado dos Incas. O povoado foi residência do inca Túpac Yupanqui, e suas ruas ainda preservam muros e nichos trapezoidais originais do século XV.
Nas proximidades, a Laguna Piuray abastece Cusco e o Vale Sagrado, sendo um dos principais reservatórios naturais da região. Entre as montanhas e espelhos d’água, o Centro Cultural Parwa se destaca como exemplo de como o artesanato e o turismo de experiência podem caminhar juntos rumo à sustentabilidade social e ambiental.
Reportagem e foto: Mary de Aquino.