De 7 a 13 de setembro, a Tailândia sediou o 2025 Global Meaningful Travel Summit, organizado pela Tourism Authority of Thailand (TAT) em parceria com a norte-americana Tourism Cares. O encontro reuniu líderes, especialistas e comunidades para debater sustentabilidade, cultura e inclusão, com atividades em Krabi e Bangkok.
Gastronomia como identidade e impacto comunitário
Mediado por Quayla Allen-Comella, especialista em inclusão reconhecida pelo LA Times, o painel “Alimento: Sustentabilidade, Cultura e Inclusão” reuniu chefs, produtores e empreendedores sociais.
Krittaya (Pang) Sirimongkolsatian, do Poomjai Garden, destacou a culinária tailandesa como reflexo de tradição e saúde: “Se olharmos para os cardápios tradicionais, eram compostos 100% de ingredientes naturais. Hoje, mesmo com alguns processamentos, a essência permanece saudável”. No Poomjai Garden, oficinas e apresentações artísticas conectaram visitantes à vida comunitária, fortalecendo economia e cultura local.
Alisara Sivayathorn, do Sivatel Bangkok Hotel e Café Jardin, mostrou como o luxo pode ser sustentável: “Cada família tem sua versão do autêntico. Esse olhar aberto fortalece comunidades, gera renda e dá continuidade às tradições.” Seu programa premiado “Da Cozinha ao Frango e Além” alcançou zero desperdício em aterros, reaproveitando restos de alimentos.
Chutima Limpasurat, diretora de marketing do The Sukhothai Bangkok, ressaltou que sustentabilidade agregava valor ao luxo: “A culinária tailandesa é, por essência, medicinal. Mostrar isso ao hóspede é oferecer luxo com significado.”
Turismo comunitário regenerativo
Wanvipa Phanumat, da Local Alike, mostrou como o turismo podia ser ferramenta de desenvolvimento em mais de 200 comunidades: “Não usamos o turismo apenas como atividade econômica, mas como ferramenta de desenvolvimento sustentável em parceria com as comunidades.”
Alyssa Sands, da EF Ultimate Break, apresentou jovens viajantes como agentes de impacto: “Cada ação gera impacto e temos a responsabilidade de contribuir positivamente para pessoas, comunidades e o planeta.” A EF lançou 13 novos itinerários na Tailândia incorporando práticas sustentáveis e conexão direta com comunidades locais.
Kotchaporn (Molly) Tolahbut e Suwaree (Nan) Chuensom, responsáveis por operações e guias, reforçaram a importância de parcerias locais para integrar sustentabilidade e hospitalidade em grupos grandes de viajantes.
Conservação e educação ambiental
Vijo Varghese, da OurLand Reserve & Education Center, destacou a conservação privada com foco em pessoas e elefantes asiáticos. A reserva conectava habitats fragmentados e promovia educação ambiental, protegendo 11 acres — cerca de 12% do corredor ecológico planejado — e recebendo reconhecimento da ONU em 2024.
Varghese explicou o modelo 3P:
Lucro (Profit): olhar os números, sem esquecer impacto social e ambiental.
Pessoas (People): incluir escolas e comunidades vizinhas nos benefícios.
Planeta (Planet): decisões sempre considerando impacto ambiental.
Investimento de impacto
Sarah Payne, da UnTours Foundation, mostrou como financiamento flexível e empréstimos acessíveis fortaleciam pequenas empresas de turismo comunitário. A fundação, proprietária da primeira B Corporation do mundo, já havia apoiado 400 negócios com US$ 11 milhões e mais de 50 empresas de turismo sustentável.
“Nosso fundador acreditava em dar uma mão para cima, não um subsídio. Isso gera parceria de igual para igual e efeito multiplicador: um empréstimo pago financia outro negócio”, afirmou Payne.
A fundação também atuava com parceiros corporativos e institucionais, como Agoda, WWF Singapura e Tourism Cares, incluindo investimentos na Local Alike. Payne concluiu: “Se quisermos turismo realmente sustentável, precisamos garantir que o capital chegue até a base — às pequenas empresas que são a espinha dorsal da indústria.”
Tornando o turismo comunitário o padrão
John Sutherland, Diretor de Impacto Comunitário da Tourism Cares, conduziu um workshop com todos os participantes do Summit sobre como tornar o turismo comunitário o padrão até 2028. Ele destacou que a transformação começava pela narrativa: “Precisamos tornar o turismo comunitário aspiracional e popular, destacando experiências transformadoras e impacto positivo.”
Sutherland reforçou a importância de capacitação e colaboração, com incubadoras, mentorias e suporte técnico, além da necessidade de DMOs, operadores, ONGs e mídia alinhados para escalar o modelo.
A mensuração e a transparência também foram pontos centrais: criar estruturas comuns para rastrear benefícios e tornar os resultados visíveis era essencial para construir confiança e consolidar o turismo comunitário como modelo sustentável.
Encerramento inspirador
Greg Takehara, CEO da Tourism Cares, agradeceu equipes, parceiros e comunidades locais: “Viemos à Tailândia para testemunhar alguns dos melhores exemplos de turismo comunitário e sustentável do mundo. Nada disso seria possível sem nossos parceiros locais e patrocinadores.”
Ele ressaltou o trabalho coletivo: “Sou o elo mais fraco da equipe, e digo isso com orgulho. Essa é a verdadeira força do Tourism Cares.”
Takehara encerrou refletindo sobre o summit como pico aspiracional: “Fizemos progresso real, mas o desafio é continuar subindo. Se não estivéssemos aqui, faríamos falta? Nosso legado será que a indústria inteira incorpore responsabilidade social e ambiental a ponto de não ser mais necessário o Tourism Cares.”
Reportagem e foto: Mary de Aquino.