Durante o Salão Nacional do Turismo, Pedro Cleto, diretor executivo da Parquetur, e Isaías Júnior, gerente de marketing da empresa, apresentaram um panorama completo sobre conquistas, descobertas e gargalos.
O Salão Nacional do Turismo realizou sua 9ª edição em São Paulo, no Distrito Anhembi, entre 21 e 23 de agosto de 2025.
Com o tema “Diversidade, Inclusão e Sustentabilidade no Turismo”, o evento foi promovido pelo Ministério do Turismo em parceria com o governo estadual e a prefeitura.
Concessões: a infraestrutura que falta
Segundo Cleto, as concessões representam um passo inevitável para transformar a experiência dos visitantes. “Hoje, 48% dos parques brasileiros não têm sequer banheiro”, alertou. Ele lembra que o Brasil começou tarde nesse processo: “O primeiro parque concessionado foi em 1999, nas Cataratas do Iguaçu. Nos Estados Unidos, Yellowstone já havia sido concedido em 1875.”
De 2018 até agora, cerca de 50 parques foram incluídos nesse modelo — uma aceleração sem precedentes. “Ainda é uma ferramenta nova, mas totalmente necessária para desenvolver a visitação”, afirmou Cleto.
Patrimônio histórico dentro dos parques
A conservação de monumentos também está no radar. Cleto citou o Parque Caminhos do Mar, a apenas 50 minutos de São Paulo, que abriga nove monumentos construídos há mais de um século em homenagem ao centenário da Independência. “Estavam abandonados e nós fizemos 100% do restauro”, destacou.
Outro exemplo é o Parque do Itacolomi, em Ouro Preto, que guarda uma casa bandeirista ligada à cobrança do “quinto do ouro”. “É fundamental abrir esses espaços para visitação, para que a população entenda a história e se aproprie dela”, disse Cleto.
Itatiaia e o turismo científico e arqueológico
O diretor destacou descobertas recentes em parques como Itatiaia. “Encontramos sítios com pinturas rupestres de 3.500 a 4 mil anos. Estamos trabalhando com pesquisadores do Museu Nacional para compreender sua grandiosidade e estruturar a visitação”, explicou.
Cleto ressaltou que a ideia é integrar a arqueologia e a ciência à experiência turística, criando oportunidades de educação e lazer. “Queremos que os visitantes tenham acesso a descobertas históricas de forma organizada e segura”, disse.
Turismo como produto estruturado
Apesar de ícones como Lençóis Maranhenses já figurarem em campanhas internacionais, o país ainda falha em transformar os parques em produtos turísticos claros. “Você vê uma imagem no metrô de Paris, mas ainda não sabe como chegar, onde se hospedar, como se locomover”, explicou Cleto.
Nesse ponto, ele ressaltou a importância de iniciativas como as do presidente da Embratur, Marcelo Freixo, que defende a criação de pacotes organizados. “Quando conseguirmos envelopar os parques como produto, o impacto será brutal em toda a cadeia do turismo”, reforçou.
Segurança: da Chapada ao visitante
A questão da segurança também foi abordada. Na Chapada dos Veadeiros, incêndios criminosos são recorrentes. Cleto explicou os limites da atuação da Parquetur: “O combate ao fogo é responsabilidade do ICMBio. Nosso papel é orientar os visitantes sobre riscos como incêndios, cabeças d’água ou acidentes.”
Ele destacou que há protocolos claros, como o Sistema de Gestão de Segurança (SGS), para atendimento rápido a turistas.
Chapada dos Guimarães: entre obras e expectativa
Sobre o acesso à Chapada dos Guimarães, Cleto foi direto: “A estrada parque entre Cuiabá e o município está em obras e ainda não oferece plenas condições de visitação.” A Parquetur será concessionária do uso público, mas a operação só começará após a conclusão das intervenções. “Esperamos que não fique fechado, porque o potencial é enorme”, concluiu.
Marketing: educar antes de encantar
Já o gerente de marketing, Isaías Júnior, detalhou como a comunicação com o público é um dos maiores desafios. “Hoje, 70% da energia do marketing vai para conscientizar. O visitante pergunta: como eu chego? Tem onde dormir? É seguro? O trabalho inicial é educativo”, disse.
Para ele, uma vez dentro do parque, a experiência fala por si: “Olhar para uma cachoeira imensa, dormir sob o céu estrelado, ter uma das noites mais tranquilas da vida. Esse é o encantamento que fideliza o turista.”
O desafio é transformar potencial em realidade
O Brasil recebe, em média, 16 milhões de visitantes anuais em seus parques. Nos Estados Unidos, são mais de 300 milhões. A disparidade mostra o tamanho da oportunidade. Como resume Cleto, “o turismo tem vocação total no Brasil, mas falta estruturar os parques como produtos completos, que unam preservação, experiência e impacto econômico positivo.”
Reportagem e foto: Mary de Aquino.